segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Maria da Assunção e Mãe da Glória

         

            Celebramos no último domingo a festa que nos apresenta Maria no céu, inserida na glória de Deus. Ela, criatura humana, gente como nós, foi totalmente transfigurada pelo Espírito de Deus e glorificada junto do seu Filho Jesus. O seu ‘sim’ absoluto ao projeto de Deus na encarnação, revela que foi discípula fiel. Nela enxergamos o que a graça de Deus fará conosco no fim dos tempos, nela podemos antever onde chegaremos. Para isso, é urgente tratarmos com seriedade o chamado que Deus nos fez, é preciso viver na disponibilidade para servir a Deus.
Neste sentido, glorificamos Maria por ter sido, entre nós cristãos, desde que a ela o anjo anunciou a sua maternidade, a primeira que colaborou com a ação do Espírito, a primeira que fez Jesus nascer para a humanidade, a primeira discípula do Mestre Jesus, a primeira que experimentou a intimidade de Deus na vida eterna.
A vitória da vida é certa, mas as sombras da morte sempre vão nos acompanhar, um dia todos morrerão. E ai? Ai que ninguém deve se conformar com isso, porque seria ir de encontro a todas as nossas esperanças. São Paulo disse que Jesus ressuscitado é “primícia dos que morreram”. Isso significa que ele é o primeiro dentre muitos, é sinal de que é apenas um fruto inicial, uma amostra que aponta para o que acontecerá conosco. É isso mesmo, a ressurreição de Jesus é o modelo do que Deus tem preparado para nós, é o que aconteceu com nossa Mãe Maria que já faz parte plenamente dessa glória. Chegaremos lá também.
O importante, é perceber que a glorificação de Maria se deu como culminância de toda a sua vida de fidelidade a Deus. Existia, por trás dela, uma história de fé e intimidade com Deus que a levou ao céu. Maria falava de Deus com muita propriedade, dizia que o seu Deus era cheio de uma misericórdia que se estende de geração em geração, cheio de amor pelos pequenos, os que precisam de socorro. É o Deus que sacia os famintos, que manda os poderosos baixarem a cabeça e descerem dos seus tronos, obriga-os a viverem a solidariedade e a partilha com os menos favorecidos. Foi por essa estrada que Maria chegou à glória.
Portanto caros irmãos e irmãs, aprendamos com nossa Mãe Santíssima, que o caminho que nos conduzirá para o alto passa pela nossa atenção com os mais pobres, os caídos, os mais sofridos dos nossos irmãos. Nossa Senhora da Glória interceda por nós!

Ação de Graças pela Paróquia do Rosário

“Por ocasião da dedicação das muralhas de Jerusalém,
os levitas foram convocados para irem a Jerusalém
a fim de celebrarem a dedicação com festa e ação de graças”
(Ne 12,27).

Caros irmãos e irmãs, a Paróquia do Rosário em Campina Grande está em festa por ocasião dos seus setenta e quatro anos de existência. Dom Moysés Coelho, então Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba, a erigiu em 15 de agosto de 1940. Portanto, uma rica história de existência pastoral que nos motiva a celebrar este momento com maior júbilo e fervor.
Além disso, há quatro anos, em 15 de agosto 2010, Dom Jaime Vieira Rocha juntamente com a Paróquia realizou uma missa festiva para dedicar a Igreja Matriz, dando importância maior a essa data comemorativa. Daí que, considero de suma importância convidar a todos para rezarmos uma Missa no domingo 31 de agosto, às 19h30, para comemorarmos essa data tão significativa.
Da minha parte agradeço de coração a Deus por ter me enviado a ser o Pároco deste povo tão bom. Hoje tenho a alegria renovada por ter recebido o encargo de uma paróquia tão vibrante, tão cheia de dons que pude ver nas atividades que contemplei nesses quase três meses ao lado deles. Obrigado Senhor, pela bondade que me concede de renovar o ministério sacerdotal, grande graça que recebi.
É admirável olhar aquelas paredes internas da linda matriz, arquitetura em arcos que engrandecem a estrutura, aquela suntuosa torre em formato de agulha que nunca vi mais bela, uma elevação do telhado que embeleza os olhares com a majestosa telha inglesa, a venerável Imagem da Padroeira presidindo o altar, a Imagem do Crucificado suspensa dão especial nobreza a matriz e muitas outras coisas de raro esplendor. Bom seria se as paredes da Igreja pudessem falar. Com certeza contariam as numerosas graças que Deus operou ao longo destes mais de setenta anos que se passaram.
Inúmeros receberam ali os benefícios dos Sacramentos, uns se tornaram cristãos pelo Batismo, outros se uniram pelo laço sagrado do Matrimônio, muitos suplicaram e conseguiram o perdão de Deus por meio do Sacramento da Penitência e alguns filhos receberam o sacramento da Ordem.
Que maravilha que este apostolado continua produzindo seus frutos benéficos, tanto é verdade que a Igreja do Rosário chegou a esta maturidade septuagenária, com ares de vida sempre renovada, pessoas sempre mais sedentas de servir a Igreja, fiéis que se multiplicam com renovado ardor para seguirem Jesus. Sem dúvida, um povo de participação ativa à vida da Igreja, e isso faz com que aumente em nós sempre mais a esperança e o entusiasmo próprio dos que são guiados pelo Espírito Santo, na busca de conseguirmos acordar com o testemunho cristão, os que vivem afastados ou indiferentes à fé.
É desejo de Nossa Senhora do Rosário, Mãe desta comunidade, que continuemos seguindo seu Filho Jesus, sendo uma Igreja viva, participativa, interventiva, corresponsável com a missão, comunidade alimentada pela Palavra de Deus e pela a Eucaristia, comprometida com a evangelização, sinal e presença do Amor de Deus no mundo, junto de todos e, em especial, dos mais pobres e carentes.
Diante de um mundo impregnado pelo pluralismo cultural e religioso e atrelado ao indiferentismo da fé que atinge brutalmente nossas comunidades católicas, precisamos intensificar nossas práticas religiosas. Somos cada vez mais convidados a um novo jeito de ser Igreja, um novo jeito de ser missionário, a renovar as metodologias para que sejam capazes de mobilizar a Paróquia num movimento que impulsione de dentro para fora, que envie nossos fiéis à uma ação concreta de evangelização que vise uma atenção maior e um cuidado cheio de zelo pelos mais pobres e distantes.
A paróquia é como uma mãe acolhedora que conhece e ajuda seus filhos, sobretudo aqueles que precisam de conforto espiritual e apoio material, para se erguerem e enfrentarem, com fé e coragem, os caminhos difíceis das suas vidas. Não há razão de ser comunidade cristã se não sentirmos o desejo de promover a comunhão, viver a solidariedade e a fraternidade!        
Neste momento importante para o Rosário, nós que formamos a Igreja, ao fazermos esta memória da instalação e dedicação desta Paróquia, elevamos também a Deus a nossa prece agradecida por todos aqueles que, vivos ou falecidos, de algum modo estiveram ligados à concretização do Projeto de Deus nesta comunidade, empenhando-se na construção e preservação do prédio e do seu patrimônio, mas sobretudo na edificação e aperfeiçoamento de espaços pastorais que dão vida a tudo que existe.
 É nosso dever de gratidão lembrarmos os padres que passaram por aqui e se esforçaram para preservar toda essa estrutura. Todos merecem ser recordados e trazidos à memória, com seu devido destaque para alguns que deixaram sinais marcantes. A eles um gesto de gratidão pela presteza e colaboração de amor dispensado a esse povo. Da mesma forma, é dever nosso e considero mais que justo estender os nossos agradecimentos a todos os paroquianos de ontem, os que no passado colaboraram com dedicação e espírito de fé, em benefício desta Paróquia. Enumerá-los seria a tarefa difícil, mas recordá-los é o mínimo que podemos fazer em nossas preces. Aos paroquianos de hoje, desejo que, sob as luzes do Espírito Santo, continuem animados na caminhada ao encontro do Cristo, apesar das dificuldades que encontrarão ao longo da estrada.
A todos vocês, irmãos e irmãs, os mais sinceros votos de que a presença de Cristo entre nós nos ajude a crescer na Fé e no seguimento do Filho de Deus, que por amor nos tornou filhos do mesmo Pai. Que nossa Mãe Padroeira seja nossa intercessora: Nossa Senhora do Rosário! Rogai por nós!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O Reino de Deus

Caros irmãos e irmãs, neste décimo sétimo domingo comum, a palavra que Deus nos revela na sequência de parábolas sobre o Reino de Deus, que Jesus usa algumas metáforas bonitas para falar desse Reino. Jesus diz que o Reino dos Céus é como um homem que estava trabalhando num campo e cavando descobriu um tesouro escondido ali. Então, ele escondeu de novo o tesouro, vendeu tudo o que tinha para comprar aquele campo. Aí sim, ele podia descobrir o tesouro porque o campo lhe pertencia. A esperteza daquele homem apaixonado por aquele tesouro, que trocou tudo o que tinha por ele, é o comportamento de quem descobre o Reino de Deus, deve trocar tudo o que tem por aquele tesouro.

Na segunda parábola, Jesus fala que um colecionador de pedras preciosas quando encontra uma pérola de grande valor, vende tudo e troca tudo por aquela pedra. Talvez, para quem nunca foi colecionador, aquela pedra não faça o menor sentido, não tenha tanta importância, mas para ele que é colecionador, aquela pérola vale mais do que o valor comercial dela. Jesus quer nos comunicar com isso, que o valor do Reino de Deus é só para quem descobre o Reino. Nem todos estão dispostos a trocar as suas riquezas pelo Reino de Deus, pela proposta de Jesus, pelo Evangelho; só quem recebe esse Reino como um tesouro como uma pérola.

Com isso, é pertinente que façamos a nós mesmo essa pergunta: O Reino de Deus é um tesouro para nós? Conhecer Jesus, ler o Evangelho, salvar-se em Cristo é para nós algo valioso? Se não for, ou enquanto não for, nós não vamos trocar nada por ele. Façamos como o Apóstolo Paulo disse na Carta aos Filipenses: "Eu considero tudo como perda, como lixo, como esterco, em comparação com esse bem supremo que é o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por causa dele pedi tudo, troquei tudo por ele" Fl 3, 8-16). 

É por isso que, a primeira leitura deste domingo apresenta um texto belíssimo do Primeiro Livro dos Reis, a oração que o Rei Salomão fez ao Senhor. Ele entra na presença de Deus, se reconhece pequeno, humilde, e diz ao Senhor: "Eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar" (1Rs 3,7b). E Deus diz para ele: "Pede o que desejas, e eu te darei" (1Rs 3,5). Vejam, é o mesmo que dizer: peça o que você quiser Salomão porque você me agrada. E Salomão diz: "Dá, pois, ao teu servo, o coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal" (1Rs 3,9). Em outras palavras, Salomão pede um coração sábio, coração capaz de escutar Deus. 

Ora meus irmãos, o texto nos diz que esta oração de Salomão agradou muito o Senhor. E Deus disse: "Já que pediste esses dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; vou dar-te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti, nem haverá depois de ti" (1Rs 3,11-12).

Amigos e irmãos, aqui se apresenta para nós o que é essencial na vida. Jesus está nos ensinando a pedir a Deus o mais importante. Jesus mesmo nos disse: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça. E tudo mais vos será acrescentado" (Mt 6,33). Se nós pedirmos o que é essencial, pedimos tudo. Mas se pedirmos o que é supérfluo, banal, aquilo que está na periferia, nós não teremos coisa alguma. Que o Reino de Deus seja o nosso tesouro e o busquemos avidamente, cavando no chão da nossa vida até encontrá-lo escondido em nós. Amém.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Híbridos, metade trigo e metade joio

          Caros irmãos e irmãs, em domingos anteriores vimos que a semente da Palavra de Deus, o Evangelho, nem sempre cai em terra de bons corações, mas também cai em terras duras onde a semente não pode penetrar. E ainda, cai em terras de corações que deixam a Palavra de Deus penetrar, mas como a Palavra é comprometedora, quase sempre provoca perturbações, atrai perseguições, essas são as razões porque muitas pessoas deixam de pautar suas vidas pela Palavra de Deus. 
          Uma terceira possibilidade, é quando a semente cai em corações que não se deixam enraizar, porque os cuidados com o mundo, as seduções das riquezas, as ocupações e preocupações materiais a sufocam, tornando-a infrutífera. No entanto, há também o coração "terra boa" que se deixa seduzir pela Palavra de Deus e passa a viver da orientação divina.
         Sendo assim, não nos deve perturbar e tirar a paz, se entre nós existe o escândalo do cristão medíocre, do cristão pecador, do cristão distante do ideal evangélico de pureza, de santidade e de desapego. A Igreja somos nós. E sendo feita por seres humanos e vivendo mergulhada neste mundo, a Igreja da qual fazemos parte, corre continuamente o risco de ser contaminada com o mundo e ver crescer em suas fileiras o joio ao lado do trigo (Mt. 13, 24-43). Jesus já previa isso, já sabia como era ou como seria a sua Igreja, já tinha certeza que nem todos seriam bons discípulos. 
          Diante dessa situação que nada tem de bonito está, de um lado, a impaciência dos servos: "Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?...Queres que vamos arrancar o joio?" (Mt 13,27-28). Por outro lado, a paciência de Deus, o dono do campo: "Foi o inimigo que fez isto, mas não arranquem o joio, porque com ele vocês vão arrancar também o trigo" (Mt 13,29). Qual das duas atitudes operam a salvação? Sem dúvida, a paciência de Deus! Ele sabe que está situação, não põe em perigo o bom êxito do Reino. Os bons continuarão sendo bons, pela graça de Deus, ao lado dos maus. O bom testemunho que dermos, ajudará os maus a se converterem, poderá levá-los ao arrependimento e à conversão.
          Na verdade, o que Jesus condena são os extremismos. A Igreja, repito, é feita de homens e mulheres que estão mergulhados no mundo e, portanto, a Igreja corre sem cessar, o risco de se contaminar com o mundo e ver crescer em suas fileiras o joio ao lado do trigo. Certamente, alguns cristãos gostariam de recorrer a meios violentos e decisivos para excomungar os mais fracos, expulsar os que erraram na vida, afastar os hereges. Porém, nunca esqueçamos que as palavras de Jesus, "Quem não está comigo está contra mim" (Mt 12,30), são mais um alerta do que uma ameaça: 
          Deus, meus irmãos, não é um Deus ciumento, avarento, mesquinho, mas um Pai misericordioso. Jesus disse, que foi o inimigo que semeou o joio no meio da plantação de trigo. O inimigo de Deus, como disse o Evangelho deste último domingo, é o demônio. E, por isso, deve ser também o nosso inimigo e não devemos acolhê-lo em nossa vida. Daí que, da nossa parte, resta-nos saber se na "plantação de Deus", somos "trigo" ou "joio do inimigo"? Ou ainda, se somos híbridos: metade "trigo" e metade "joio"? 
          Meus irmãos, façamos questão de ser trigo, trigo puro da melhor qualidade. Deus nos ajudará e nos concederá esta graça. E acredito que cada um já sabe como proceder para ser assim. Amém.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Aniversário de 60 anos de Dom Manoel Delson

Dom Delson, nosso Bispo, sei que pelo seu jeito simples e discreto de ser, não é afeito a essas homenagens, não busca aplausos. Inclusive essa comemoração foi mais um desejo nosso do que propriamente dele. Precisávamos como filhos e filhas, ovelhas deste rebanho, externar nossa felicidade, nossa alegria de festejar essa data tão especial e memorável, que merece ser celebrada conosco.

Por isso, venho em nome dos meus irmãos do presbitério e de todos os diocesanos, dizer que estamos felizes por existir entre nós. E nesta data do seu nascimento, jubileu dos sessenta anos, queremos elevar a Deus o nosso louvor, a nossa ação de graças pelo seu dom da vida.

Certamente nestas breves palavras não seja possível dizer, plenamente, tudo o que cada um dos que fazem esta assembleia gostaria de expressar. Mas de todo modo, queremos com todo afeto, dizer o quanto o senhor nos cativou, por sua humildade e docilidade, pela retidão e segurança com que nos comunica a Fé e a Palavra de Deus e, especialmente, pelo tratamento que vem dando às pessoas mais pobres.

Outro dia escutei da secretaria Andréa que o senhor certa vez disse que eles, "os mais pobres, deveriam ter prioridade na fila de espera para entrar na sala de atendimento do Bispo". Nisso, vemos uma atenção especial com aqueles que em muitos ambientes jamais conseguirão está nos primeiros lugares. Um tratamento cheio de amor e paciência com as pessoas idosas, jovens e crianças. Isso tudo nos cativou e vem nos cativando cada vez mais.

Isso é que é vida com V maiúsculo, vida de verdade, vida partilhada, repartida, doada para que outros tenham vida, e a tenham em abundância. É admirável ver que não se preocupa em ter um bem viver, mas sente-se feliz em ver que os outros estão vivendo bem. Não quer ser feliz sozinho, mas está preocupado que seu rebanho seja feliz, seja amado, tenha dignidade. O senhor tem o coração ampliado!

Meus irmãos, Dom Delson, marca por ser objetivo no falar, diz muito em poucas palavras, prefere o silêncio, a contemplação dos fatos. Palavra firme, concreta e decisória. Em pouco tempo já foi possível perceber o quanto lhe entristece a desonestidade, as atitudes de quem estraga a vida de outras pessoas e dos que agem maldosamente contra o seu rebanho, dos que dividem, dos que buscam o poder e os primeiros lugares e não o serviço. Sua presença evidencia e confirma para nós, aquilo que é parte fundamental no ministério do Bispo: ser a Ponte entre os homens de boa vontade e Deus em Jesus, único e supremo Pastor.

É exatamente por tudo isso e muito mais, que estamos aqui e consideramos esta data especial. E pedimos então a Deus, que lhe dê sempre muita sabedoria para nos transmitir mais e mais, esse testemunho de vida tão edificante. Tenha certeza Dom Delson, que muitos de nós rezamos diariamente pelo senhor, o colocamos bem junto de Deus, nos sentimos felizes por sua existência e agradecemos a Deus pelo Bispo que temos. 

Feliz Aniversário!

Pe. Márcio Henrique Mendes Fernandes
Vigário Geral   -   10/07/2014


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Coração pode ser “terra boa”

A liturgia deste décimo quinto domingo do Tempo Comum, convida a abrir o coração e fazer dele “terra boa”. Para que uma terra seja boa, é preciso cuidar dela, revirá-la, remover o que nela está sendo daninho. Quem já lidou com a terra, sabe quais os cuidados necessários para que ela fique pronta para a semeadura.
O nosso coração precisa se transformar numa “terra boa”, aonde a semente da Palavra será lançada, e para que isso aconteça ele precisa ser cuidado. E quando falo de coração, quero falar da alma, do entendimento e de tudo o que se constitui o nosso ser. É urgente cuidar de tudo isso. Imagino que a melhor forma que temos para cuidar do nosso coração, é nos aprimorando numa espiritualidade, é aproximando-se de Deus.
Assim, todo homem e toda mulher que tem fé, conseguirão compreender melhor os apelos de Deus, conseguirão fazer do coração uma “terra boa”, para receber a semente da Palavra. Isso acontece, porque a fé faz toda diferença na nossa vida, a espiritualidade faz com que a vida não seja um fardo pesado. Quem acredita em Deus e sua Palavra, enfrenta melhor os seus próprios conflitos, perturbações, inquietações e solidão. Cada um sabe muito bem, que não foram poucas as vezes em que na nossa solidão, quem nos acompanhou foi a nossa fé, nossa espiritualidade.
É isso que ajuda a sermos melhores no nosso trabalho, quando são grandes os conflitos, quando somos perseguidos e incompreendidos. E nestes momentos difíceis, onde procuramos apoio, onde nós nos protegemos? Sem dúvida, é na fé que buscamos essa sustentação, é na espiritualidade que temos dentro do coração que nos amparamos.
Esse apoio da fé e da espiritualidade, faz-se necessário em toda as realidades da nossa vida. É assim que nosso coração se transforma numa “terra boa”, para que a semente da Palavra de Deus possa cair, germinar e produzir frutos. É assim que nos tornamos sensíveis àquilo que Deus quer falar, nos tornamos sensíveis ao diálogo que Deus estabelece com cada um de nós.
Eis o caminho que Deus escolhe para entrar em diálogo conosco: sua Palavra. A Palavra que é proclamada pela boca dos profetas, aquela que ouvimos quando ligamos a televisão num canal católico e assistimos a Santa Missa, quando ouvimos uma pregação. Essa Palavra que, muitas vezes, é anunciada dentro de uma comunidade, através de um testemunho que ouvimos e a partir dos serviços de catequese.
Desse modo, quando temos fé, quando temos espiritualidade, Deus vai falando conosco, vai mostrando o que ele quer, vai revelando os seus apelos, vai nos consolando, vai nos confortando, vai nos fortalecendo e, consequentemente, nos empurrando para frente. É por isso que o convite da liturgia de hoje, é para que possamos ter essa sensibilidade de cuidar do nosso coração, da nossa alma, do nosso entendimento e de tudo aquilo que nos forma como pessoa.
Então cuidemos, porque uma terra mal cuidada não produz nada, e quando produz, produz uma planta minguada e franzina que não dá frutos. Cuidemos da “terra” que é o nosso coração, que somos nós, para que Deus fale, para que nós possamos superar nossa mentalidade muito racionalista. Qual é o motivo pelo qual muitas pessoas se distanciam da fé, se afastam da religião procurando diversas espiritualidades não-cristãs?  Porque, justamente, vivemos num mundo de muita racionalidade.
Com efeito, quando usamos demais a nossa razão, o nosso coração vai secando, vai se fechando; o nosso coração vai se tornando uma “terra improdutiva”, porque tudo nós queremos questionar, tudo para nós se não tiver uma explicação lógica não faz sentido. E na fé não é assim. Na fé você é chamado a se lançar no misterioso, a ter uma espiritualidade que acredita na Providência Divina, mesmo que os olhos não enxerguem possibilidades. É crer que Deus está no comando e irá conduzir tudo da melhor forma.
Quem cuida do coração ameniza os conflitos racionais. Cuide do seu coração, de tudo aquilo que lhe compõe, para que você seja uma pessoa diferente no seu modo de ser e agir, na sua forma de conversar, no jeito de acolher pessoas dentro de sua casa. Diferente quando tiver que responder lá no trabalho a quem lhe convida a ser injusto, a ser maldoso ou a quem lhe ataca com perseguição. Diferente pela bondade, pelas amizades e porque não faz as coisas erradas que lhe convidam só para agradar. Seja diferente, seja cristão!
Diante desse pensamento, tenhamos consciência de que a presença de um cristão será sempre uma presença questionadora e incômoda, frente ao que acreditamos não ser correto. Como é admirável ver pessoas nas comunidades que são diferentes pelo modo de se comportarem, pela vida serena, pessoas que são sensíveis e atendem prontamente aos apelos dos dons, carismas e serviços. Como é belo ver gente bondosa, gente que partilha suas posses com os pobres, gente disponível e generosa com Igreja, pessoas que possuem o coração diferente.
Portanto, que o nosso coração, aquilo que nos compõe, cresça cada vez mais como “terra boa”. Mas não se esqueça que para ser “terra boa”, precisamos cuidar e encontrar uma forma correta e inteligente, ou talvez mais do que inteligente, cheia de sabedoria para saber cuidar dessa terra. Aí com certeza, a semente cairá e produzirá muito frutos, porque deixamos que Deus pudesse encontrar um caminho, um meio para falar com cada um de nós. Amém!

domingo, 29 de junho de 2014

Pedro e Paulo, Santos Apóstolos

            A liturgia deste domingo celebra São Pedro e São Paulo, com solenidade própria de dois grandes Apóstolos, que tiveram uma presença marcante na Igreja primitiva. Pedro era discípulo de Jesus, escolhido por ele como o primeiro Papa, e Paulo o primeiro missionário, que levou a Igreja ao mundo. Pedro representa mais a instituição, o Papa, os dogmas e Paulo representa o carisma, o lado pastoral. As duas coisas são importantes.
            Os dois seguiram Jesus por caminhos, atividades e campos diferentes. Paulo viaja e foi para o mundo e Pedro ficava mais em Jerusalém e redondeza. Desentenderam-se algumas vezes e Paulo chamou a atenção de Pedro. Divergiam nos pontos de vista e na visão do mundo. Paulo era homem com categorias distintas, era fariseu romano, observante zeloso, era discípulo rabino de Gamaliel, entendido nas Sagradas Escrituras, ferrenho procurador e defensor da verdade, era forte, briguento, perseguidor radical, mas foi quem abriu o cristianismo para outros povos.
            O cristianismo chegou até nós, exatamente por esta bravura missionária de Paulo. E Pedro não aceitou que falasse da sua paixão, não queria que Jesus lavasse os seus pés, negou Jesus por três vezes, era indeciso; enfrentou muitos problemas de conflitos entre os povos judeus e não judeus, problemas de tradição. Coitado de Pedro, pegou uma barra bem pesada e era um homem rude, simples, um “caipira” que sabia apenas pescar e teve que se desdobrar para buscar solução para tantos problemas. Jesus vai transformá-lo em pescador de homens.
Os dois personificaram a identidade da Igreja, como discípulos e missionários. Diferentes na missão, no caráter, no estudo, mas profundamente unidos no amor e na fé por Cristo e sua Igreja. Pontos de vista distintos, mas o amor a Cristo e a força do testemunho os uniram na vida e no martírio. Em ambos, quer na vida quer no martírio, vão se prolongar a vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo. Em nossos sofrimentos e dificuldades acontece isso mesmo, prolongamos em nós a Paixão de Cristo.
Desta forma, Pedro e Paulo sacrificaram suas vidas para testemunhar Jesus. Obedeceram a recomendação do Mestre: “quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la. E quem quiser perder a sua vida por amor a mim, vai salvá-la” (Mt 16,25). Que trágico ver gente preocupada somente em defender os seus próprios espaços, proteger-se materialmente a partir de acúmulos de recursos, achando que ser rico é ter muito dinheiro, ter muito estudo, ter títulos e muitos bens. Entretanto, são pessoas que tem tudo, mas muitas vezes não tem Deus, não servem a Deus. Isso, é pobreza pura! Uma questão que não tem nada a ver com dinheiro.
Por outro lado, ser pobre de espírito é um valor para o Reino de Deus. Mesmo que possua muito ou não tenha quase nada, mas se for totalmente aberto ao projeto do Reino de Deus, arrebenta com toda essa carcaça de rico e pobre, de dinheiro e de bens. É nessa pobreza de espírito que Deus quer constituir seus discípulos. Porém, a condição básica é aprender com o próprio Jesus, olhar para o próprio Jesus, extrair dele os exemplos para ser discípulo.
Por isso, Jesus interroga os seus seguidores para saber se eles estão caminhando com coerência, se sabem com toda certeza quem é Jesus. E veio a pergunta: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mt 16, 13). Ora, na sociedade da época existia uma mentalidade de um messias glorioso, mas Jesus sempre fez referência a quem acredita no filho do homem. Por conta dessa frase, havia muito conflito de opiniões à respeito de Jesus. É filho de Deus ou filho do homem?  Jesus sabia que eles imaginavam um messias glorioso, mas com características apenas natural, mensageiro de Deus, mas filho de José e de Maria. No entanto, Pedro disse que era filho de Deus, então veio a dúvida: não é mais filho do homem.
A pergunta foi então dirigida aos mais próximos. “E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Assim Jesus hoje nos questiona individualmente, questiona a nossa religião. É bom lembrar que Jesus respeitava o Templo, até foi três vezes visitá-lo: o levaram quando criança para a circuncisão, com doze anos ele se perdeu no Templo, depois voltou e arrancou as mesas dos vendedores. Vejam, apesar de considerar o Templo importante na vida das pessoas, mas Jesus não foi de frequentar o Templo com exclusividade. Pelo contrário, ele vai à periferia, longe das influências ideológicas do centro.
Essa é a pedagogia de Jesus. É lá na periferia que os discípulos são convidados a dar uma resposta de “quem é Jesus?”. Agora é o tempo da Igreja e Jesus não quer discípulos de aparência, não quer formalismos, quer discípulos de fibra. O próprio Jesus agiu com muita humanidade, se apresentava como filho do homem e por isso foi confundido como um simples profeta, uma simples sequência de profetas antigos: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros, ainda é Jeremias, ou algum dos profetas.” (Mt 16, 14). Porém, Jesus é mais que isso, é filho de Deus. É filho do homem, sim. E esse era um título que o colocava no chão da vida do povo, dos mortais; ele era carne e osso e a encarnação causava algumas distorções. Então, a responsabilidade de Pedro foi completa: “Tu és o Messias, filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).
A preocupação do evangelista Mateus foi de apresentar Jesus como Emanuel, o Deus conosco, Deus salvador. Assim, Jesus é a realização das expectativas messiânicas, o portador da justiça que cria uma sociedade e história novas. Então, ele não é uma repetição, não é uma simples continuação do Antigo Testamento; ele vai superar a barreira do velho e introduzir uma novidade.
Caríssimos, é lá na periferia também, é lá na Cesaréia de Felipe, que Jesus vai realizar melhor a sua missão. Lembro da Palavra de Deus na Ascensão do Senhor, quando um anjo apareceu e disse: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1, 10-11a); o mesmo que dizer vão para a Galileia, a missão de vocês é lá, especialmente, na periferia. Hoje, onde será que está a nossa periferia, nossa Galiléia, nossa Cesaréia de Felipe? Refletam.
           Ninguém chegará a entender quem é Jesus, se não for mediante o compromisso com suas propostas, que estão ligadas a justiça do Reino e que são as mesmas propostas do Pai. O reconhecimento de Jesus não é fruto de especulação de teorias. O próprio Jesus perguntou aos discípulos quem ele era e as respostas foram erradas. Para reconhecer Jesus, tem que ser a partir de uma vivência de quem vive o projeto e, a partir disso, se compromete com ele. 
           Sendo assim, a comunidade tem seu papel forte. Jesus vai exigir de Pedro, com toda a fraqueza dele, que ele seja a base da comunidade. Jesus mostra como se realiza o seu messianismo: através do sofrimento, da rejeição e morte. E Pedro, antes pedra de edificação, vai tornar-se "satanás", porque ele propõe um messianismo alternativo. Porém, esse messianismo  foi rejeitado no episódio das tentações, quando o demônio deu as sugestões a Jesus de salvar o mundo multiplicando os pães, de conseguir poder e riqueza se ajoelhando aos pés dele e pulando do precipício. Tudo foi rejeitado. Para Jesus, a luta pelo Reino é a justiça, e é para todos.
           Desse modo, na convicção de que o projeto de Deus vai triunfar, a função primeira do líder é ter e dar esperança para a comunidade; segundo, é ser testemunha de que a salvação e a vida provém de Deus. Jesus é o filho do homem, mas é o filho do Deus vivo. E por isso, nós vamos vencer as portas do inferno, pelo poder de Deus presente em nossas comunidades. Jesus também nos dá, através do Apóstolo Pedro, as chaves do Reino dos céus. Não são chaves 'para nós', mas apenas para 'ficar' conosco.
            Portanto, irmãos e irmãs, a comunidade é administradora dessas chaves que ficaram sob o seu poder e deve, sobretudo, estar voltada para o anúncio de Jesus, ligando às coisas do céu, abrindo as portas e dando acesso a quem quiser chegar até Deus. Ser cristão, não é viver uma filosofia, uma teoria, digo mais, não é repetir é envolver-se. Amém!