A liturgia deste domingo celebra São
Pedro e São Paulo, com solenidade própria de dois grandes Apóstolos, que
tiveram uma presença marcante na Igreja primitiva. Pedro era discípulo de
Jesus, escolhido por ele como o primeiro Papa, e Paulo o primeiro missionário,
que levou a Igreja ao mundo. Pedro representa mais a instituição, o Papa, os
dogmas e Paulo representa o carisma, o lado pastoral. As duas coisas são importantes.
Os dois seguiram Jesus por caminhos,
atividades e campos diferentes. Paulo viaja e foi para o mundo e Pedro ficava
mais em Jerusalém e redondeza. Desentenderam-se algumas vezes e Paulo chamou a
atenção de Pedro. Divergiam nos pontos de vista e na visão do mundo. Paulo era
homem com categorias distintas, era fariseu romano, observante zeloso, era
discípulo rabino de Gamaliel, entendido nas Sagradas Escrituras, ferrenho
procurador e defensor da verdade, era forte, briguento, perseguidor radical,
mas foi quem abriu o cristianismo para outros povos.
O cristianismo chegou até nós,
exatamente por esta bravura missionária de Paulo. E Pedro não aceitou que
falasse da sua paixão, não queria que Jesus lavasse os seus pés, negou Jesus
por três vezes, era indeciso; enfrentou muitos problemas de conflitos entre os
povos judeus e não judeus, problemas de tradição. Coitado de Pedro, pegou uma
barra bem pesada e era um homem rude, simples, um “caipira” que sabia apenas
pescar e teve que se desdobrar para buscar solução para tantos problemas. Jesus
vai transformá-lo em pescador de homens.
Os dois personificaram a identidade da
Igreja, como discípulos e missionários. Diferentes na missão, no caráter, no
estudo, mas profundamente unidos no amor e na fé por Cristo e sua Igreja.
Pontos de vista distintos, mas o amor a Cristo e a força do testemunho os
uniram na vida e no martírio. Em ambos, quer na vida quer no martírio, vão se
prolongar a vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo. Em nossos sofrimentos
e dificuldades acontece isso mesmo, prolongamos em nós a Paixão de Cristo.
Desta forma, Pedro e Paulo sacrificaram
suas vidas para testemunhar Jesus. Obedeceram a recomendação do Mestre: “quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la.
E quem quiser perder a sua vida por amor a mim, vai salvá-la” (Mt 16,25).
Que trágico ver gente preocupada somente em defender os seus próprios espaços,
proteger-se materialmente a partir de acúmulos de recursos, achando que ser
rico é ter muito dinheiro, ter muito estudo, ter títulos e muitos bens.
Entretanto, são pessoas que tem tudo, mas muitas vezes não tem Deus, não servem
a Deus. Isso, é pobreza pura! Uma questão que não tem nada a ver com dinheiro.
Por outro lado, ser pobre de espírito é
um valor para o Reino de Deus. Mesmo que possua muito ou não tenha quase nada,
mas se for totalmente aberto ao projeto do Reino de Deus, arrebenta com toda
essa carcaça de rico e pobre, de dinheiro e de bens. É nessa pobreza de
espírito que Deus quer constituir seus discípulos. Porém, a condição básica é
aprender com o próprio Jesus, olhar para o próprio Jesus, extrair dele os
exemplos para ser discípulo.
Por isso, Jesus interroga os seus
seguidores para saber se eles estão caminhando com coerência, se sabem com toda
certeza quem é Jesus. E veio a pergunta: “Quem
dizem os homens que eu sou?” (Mt 16, 13).
Ora, na sociedade da época existia uma mentalidade de um messias glorioso,
mas Jesus sempre fez referência a quem acredita no filho do homem. Por conta dessa frase, havia muito
conflito de opiniões à respeito de Jesus. É filho de Deus ou filho do
homem? Jesus sabia que eles imaginavam
um messias glorioso, mas com características apenas natural, mensageiro de
Deus, mas filho de José e de Maria. No entanto, Pedro disse que era filho de
Deus, então veio a dúvida: não é mais filho do homem.
A pergunta foi então dirigida aos mais
próximos. “E vós quem dizeis que eu sou?”
(Mt 16,15). Assim Jesus hoje nos questiona individualmente, questiona a
nossa religião. É bom lembrar que Jesus respeitava o Templo, até foi três vezes
visitá-lo: o levaram quando criança para a circuncisão, com doze anos ele se
perdeu no Templo, depois voltou e arrancou as mesas dos vendedores. Vejam, apesar
de considerar o Templo importante na vida das pessoas, mas Jesus não foi de
frequentar o Templo com exclusividade. Pelo contrário, ele vai à periferia,
longe das influências ideológicas do centro.
Essa é a pedagogia de Jesus. É lá na
periferia que os discípulos são convidados a dar uma resposta de “quem é Jesus?”. Agora é o tempo da
Igreja e Jesus não quer discípulos de aparência, não quer formalismos, quer
discípulos de fibra. O próprio Jesus agiu com muita humanidade, se apresentava
como filho do homem e por isso foi confundido como um simples profeta, uma
simples sequência de profetas antigos: “Alguns
dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros, ainda é Jeremias, ou
algum dos profetas.” (Mt 16, 14). Porém,
Jesus é mais que isso, é filho de Deus. É filho do homem, sim. E esse era um
título que o colocava no chão da vida do povo, dos mortais; ele era carne e
osso e a encarnação causava algumas distorções. Então, a responsabilidade de
Pedro foi completa: “Tu és o Messias,
filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).
A preocupação do evangelista Mateus foi
de apresentar Jesus como Emanuel, o Deus conosco, Deus salvador. Assim, Jesus é
a realização das expectativas messiânicas, o portador da justiça que cria uma
sociedade e história novas. Então, ele não é uma repetição, não é uma simples
continuação do Antigo Testamento; ele vai superar a barreira do velho e
introduzir uma novidade.
Caríssimos,
é lá na periferia também, é lá na Cesaréia de Felipe, que Jesus vai realizar
melhor a sua missão. Lembro da Palavra de Deus na Ascensão do Senhor, quando um
anjo apareceu e disse: “Homens da
Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1, 10-11a); o mesmo que dizer vão para a Galileia, a missão de vocês é lá, especialmente, na periferia. Hoje, onde será que está a nossa periferia, nossa Galiléia, nossa Cesaréia de Felipe? Refletam.
Ninguém chegará a entender quem é Jesus, se não for mediante o compromisso com suas propostas, que estão ligadas a justiça do Reino e que são as mesmas propostas do Pai. O reconhecimento de Jesus não é fruto de especulação de teorias. O próprio Jesus perguntou aos discípulos quem ele era e as respostas foram erradas. Para reconhecer Jesus, tem que ser a partir de uma vivência de quem vive o projeto e, a partir disso, se compromete com ele.
Sendo assim, a comunidade tem seu papel forte. Jesus vai exigir de Pedro, com toda a fraqueza dele, que ele seja a base da comunidade. Jesus mostra como se realiza o seu messianismo: através do sofrimento, da rejeição e morte. E Pedro, antes pedra de edificação, vai tornar-se "satanás", porque ele propõe um messianismo alternativo. Porém, esse messianismo já foi rejeitado no episódio das tentações, quando o demônio deu as sugestões a Jesus de salvar o mundo multiplicando os pães, de conseguir poder e riqueza se ajoelhando aos pés dele e pulando do precipício. Tudo foi rejeitado. Para Jesus, a luta pelo Reino é a justiça, e é para todos.
Desse modo, na convicção de que o projeto de Deus vai triunfar, a função primeira do líder é ter e dar esperança para a comunidade; segundo, é ser testemunha de que a salvação e a vida provém de Deus. Jesus é o filho do homem, mas é o filho do Deus vivo. E por isso, nós vamos vencer as portas do inferno, pelo poder de Deus presente em nossas comunidades. Jesus também nos dá, através do Apóstolo Pedro, as chaves do Reino dos céus. Não são chaves 'para nós', mas apenas para 'ficar' conosco.
Portanto, irmãos e irmãs, a comunidade é administradora dessas chaves que ficaram sob o seu poder e deve, sobretudo, estar voltada para o anúncio de Jesus, ligando às coisas do céu, abrindo as portas e dando acesso a quem quiser chegar até Deus. Ser cristão, não é viver uma filosofia, uma teoria, digo mais, não é repetir é envolver-se. Amém!
Ninguém chegará a entender quem é Jesus, se não for mediante o compromisso com suas propostas, que estão ligadas a justiça do Reino e que são as mesmas propostas do Pai. O reconhecimento de Jesus não é fruto de especulação de teorias. O próprio Jesus perguntou aos discípulos quem ele era e as respostas foram erradas. Para reconhecer Jesus, tem que ser a partir de uma vivência de quem vive o projeto e, a partir disso, se compromete com ele.
Sendo assim, a comunidade tem seu papel forte. Jesus vai exigir de Pedro, com toda a fraqueza dele, que ele seja a base da comunidade. Jesus mostra como se realiza o seu messianismo: através do sofrimento, da rejeição e morte. E Pedro, antes pedra de edificação, vai tornar-se "satanás", porque ele propõe um messianismo alternativo. Porém, esse messianismo já foi rejeitado no episódio das tentações, quando o demônio deu as sugestões a Jesus de salvar o mundo multiplicando os pães, de conseguir poder e riqueza se ajoelhando aos pés dele e pulando do precipício. Tudo foi rejeitado. Para Jesus, a luta pelo Reino é a justiça, e é para todos.
Desse modo, na convicção de que o projeto de Deus vai triunfar, a função primeira do líder é ter e dar esperança para a comunidade; segundo, é ser testemunha de que a salvação e a vida provém de Deus. Jesus é o filho do homem, mas é o filho do Deus vivo. E por isso, nós vamos vencer as portas do inferno, pelo poder de Deus presente em nossas comunidades. Jesus também nos dá, através do Apóstolo Pedro, as chaves do Reino dos céus. Não são chaves 'para nós', mas apenas para 'ficar' conosco.
Portanto, irmãos e irmãs, a comunidade é administradora dessas chaves que ficaram sob o seu poder e deve, sobretudo, estar voltada para o anúncio de Jesus, ligando às coisas do céu, abrindo as portas e dando acesso a quem quiser chegar até Deus. Ser cristão, não é viver uma filosofia, uma teoria, digo mais, não é repetir é envolver-se. Amém!
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