A Solenidade da Ascensão do Senhor ocorre dentro das festividades pascais. É prenúncio da vinda do Espírito Santo que iremos celebrar no domingo de pentecostes.
Na
verdade, a Ressurreição, a Ascensão e o derramamento do Espírito em Pentecostes, são situações
que nos remetem à reflexão de um mesmo e único mistério. A Igreja em sua sábia
pedagogia, separou liturgicamente estas celebrações para que tenhamos mais tempo
para aprofundar essa meditação. Daí que, é preciso entender que Jesus ressuscitou
e foi para o seio do Pai. Ressuscitar é vencer a morte e entrar para a vida
eterna, a vida que é o próprio Pai eterno. Deus é nossa vida, o céu é Deus.
Na
Ascensão Jesus sinaliza que já está no céu quando nos diz: “Toda autoridade me
foi dada no céu e na terra!” (Mt. 28, 18). Então, a Ele já foi dada a autoridade, não só da
terra, mas também do céu! Assim, após a ressurreição, Jesus apareceu diversas
vezes aos seus, no entanto já não estava mais fisicamente entre eles, agora já
estava presente a partir do Espírito Santo.
Diante
disso, para celebrar a Ascensão do Senhor é preciso perceber o sentido profundo
que tem esta celebração para toda a Igreja e toda a humanidade. Algumas
palavras de Jesus, enquanto ele ainda estava caminhando entre nós, pareciam
como que codificadas, com uma compreensão ainda não muito clara. Algumas vimos domingo passado:
“um pouco de tempo e não me vereis, outro pouco de tempo e me vereis novamente”,
“vou para o Pai, mas permaneço convosco”. E assim, muitas outras passagens que
certamente deixavam os discípulos, os apóstolos inquietados. Afinal o que ele
quer dizer com isso?
Caríssimos,
quando nós ampliamos nossa compreensão do mistério da Igreja, daquela mesma
Igreja que nasce do lado aberto de Cristo, da Igreja que se põe na mesma missão
de Jesus Cristo, na mesma missão do Pentecostes. Quando compreendemos este mistério
pelas catequeses, pelas palavras do Apóstolo São Paulo, principalmente quando
ele nos diz que a “Igreja é um corpo, onde Cristo é a cabeça e nós somos os
membros” (Ef. 1, 22-23), a nossa compreensão vai se ampliando porque onde está o corpo está a
cabeça, onde está a cabeça está o corpo. Não é possível um ser completo se a
cabeça está separada do corpo e vice e versa.
Ora,
se Jesus ressuscitado dos mortos, depois de quarenta dias caminhando entre os
seus, manifestando-se, pregando como fazia antes, dando-se a conhecer, chegou agora
ao final destes dias, ele volta para junto do Pai e, certamente, ele não volta
mais da mesma forma que um dia do seio do Pai ele saiu. Sabemos muito bem que Jesus é o Verbo eterno de Deus, a segunda pessoa da Santíssima
Trindade, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro. Mas
quando esta pessoa da Santíssima Trindade se encarna, assume a natureza humana,
veste-se de um corpo humano, entre nós ele teve um nome: Jesus; também nos
ensinou a chamar Deus de Pai, “meu Pai e vosso Pai”. Isso já nos coloca numa
situação de antegozar aquilo que já nos está reservado diante de Deus, ou seja,
a vitória já é nossa, Cristo ressuscitou. E quando ele voltou para junto de
Deus, não voltou mais como verbo, mas voltou como homem Deus, portanto, levou consigo
nossa humanidade. Assim sendo, a festa de hoje é a festa da humanidade em
Cristo glorificada.
São Paulo também
nos ensina o que é a fé. A fé é a certeza de já possuirmos aquilo que
esperamos. Como é possível alguém já possuir aquilo que ainda espera? Sim,
porque nós ainda não fomos glorificados em Deus, nós ainda estamos peregrinando
neste mundo de incertezas, de dificuldades e uma série de coisas desafiadoras. A
nossa glorificação final será quando estivermos face a face com ele.
Então, como
é possível, nós já possuirmos aquilo que na fé ainda esperamos? A resposta é
simples, os sacramentos que Jesus nos deixou são essa possibilidade, essa via
de acesso que nos faz experimentar realidades das quais ainda não temos a plena
posse. Por exemplo, a Eucaristia, nada mais é do que tornarmos Jesus presente
em nossa própria vida. É possível tocá-lo, é possível vê-lo entre nós, sob os
véus dos sacramentos. Não podemos com os nossos olhos, como os discípulos, como
nos narram os Atos dos Apóstolos, não mais o vemos fisicamente, nós o vemos,
nós o experimentamos, através desses sete sinais do seu amor deixados por ele a
sua Igreja: Batismo, Eucaristia, Crisma, Reconciliação, Matrimônio, Ordem e Unção
dos Enfermos. São todos sinais sacramentais da presença de Jesus no mundo,
cumprindo aquilo que ele nos disse: “vou para junto do Pai, mas não vos deixarei
órfãos. Eu vos darei um outro advogado" (Jo. 14, 15-20), por meio do qual continuarei a minha
missão no mundo através de vocês. "Eis que estarei convosco todos os dias até a consumação
dos tempos” (Mt.28, 20b).
São palavras
que não nos permitem titubear, que não nos permitem duvidar, no sentido mais
pleno da fé. A fé se interroga, é verdade. Toda fé viva se interroga; e quanto
mais a fé se interroga, tanto mais ela se robustece, tanto mais ela avança.
Nenhum de nós deve ter uma fé cega, existe a inteligência da fé. Como
perscrutar mistérios que nos ultrapassam e muito, senão através desses sinais
que Jesus nos deixam para nos fortalecermos na caminhada. A Eucaristia é de
todos eles a forma mais iminente da presença de Jesus. Quando ele a instituiu
ele disse, isto é daqui para frente o meu corpo entregue por vós, este cálice é
o cálice do meu sangue que será derramado por vós e por muitos para a remissão
dos pecados.
Deste corpo
nós nos alimentamos. Neste corpo nós vivemos, nos movemos e somos. Em Cristo,
portanto, vivemos, nos movemos e somos. A Razão maior da nossa existência na
medida em que mergulhamos na fé neste mistério, somos como que possuídos por
esta presença amorosa de Jesus que um dia nos fará, como ele, cabeça deste
corpo, estarmos unidos no seio da Trindade. “Eu e o Pai somos um” (Jo. 10,30), nós faremos nossa
habitação no coração de cada um de vocês. “Eu e o Pai somos um”, nós somos
chamados a esta unidade perfeita que só será possível na eternidade.
Jesus no Evangelho
deste domingo nos dá um mandato, antes de voltar para junto do Pai: eis que eu
vos envio para evangelizar. "Ide pelo mundo inteiro. Toda a autoridade me foi
dada no céus e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os
povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e
ensinando-os o que vos ordenei” (Mt. 28, 19). Ouçamos então o mandato do Senhor e procuremos
em nossos dias atuais os melhores meios para levar o anúncio da Boa Nova.
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