sábado, 29 de outubro de 2011

Hipocrisia, um mal

Ml 1,14b-2,2b.8-10; Salmo 131;  1 Tessalonicenses 2, 7b-9.13;  Mateus 23, 1-12

De todos os males que Jesus enfrentou entre os seus seguidores, um dos maiores, foi o mal da hipocrisia. Em alguns momentos ele falou duramente aos hipócritas, porque esse comportamento tirava Jesus do sério. Essa história de ser uma coisa e representar outra, dizer uma coisa e pensar outra, mandar o outro praticar uma coisa e não a praticar, é para Jesus uma incoerência. Hoje poderíamos dizer que é a fonte dos maiores danos à nossa Igreja.

Jesus não media palavras quando se tratava de hipocrisia religiosa. São Mateus coloca Jesus declarando: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de cadáveres e de toda podridão!” (Mt. 23, 27). Isso, mais do que qualquer outra coisa, é o que mais decepciona Jesus.

Hipocrisia não é exclusividade da religião, como também não é encontrada apenas entre o clero ou agentes de pastoral das comunidades; figuras públicas são muitas vezes acusadas de se comportarem como tal. Em geral, no período político, vemos candidatos se agredirem chamando um ao outro de “hipócrita” e, sem dúvida, é uma palavra bastante provocadora e irritante. Quem assim é chamado fica indignado, com certeza.

Alguns ex-católicos dizem que não frequentam mais à Igreja, porque lá está cheio de pessoas que pensam que são santos, mas vivem de forma extremamente profana em seu cotidiano. São religiosos apenas no domingo, mas não vivem a vida religiosa de segunda a sábado. Ora que ingenuidade! Quem pensa dessa forma, antes precisa reconhecer que muitos dos que acusam os outros de hipocrisia padecem do mesmo mal.

Então, o que devemos fazer? A primeira coisa que devemos fazer, é admitir que há uma lacuna enorme entre o que somos e o que devemos ser. Precisamos, em primeiro lugar, acima de tudo, reconhecer a verdade sobre nós mesmos e, em seguida, pedir a misericórdia de Deus, para que ele nos ajude a alcançar uma vida autêntica e coerente.

No sétimo capítulo do Evangelho segundo São Mateus, há um relato de Jesus nos advertindo: “Não julgueis, e não sereis julgados. Pois com o mesmo julgamento com que julgardes os outros sereis julgados; e a mesma medida que usardes para os outros servirá para vós. Por que observas o cisco no olho do teu irmão e não reparas a trave que está no teu próprio olho? Ou, como podes dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu próprio olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”(Mt. 7, 1-5).

Parece-me que há apenas uma diferença entre o santo e o pecador, e é esta: o santo continua a luta contra suas tentações. O santo humildemente admite que só Deus é santo, e que todos estão muito aquém da santidade infinita de Deus. O santo tenta ser sincero, prefere não usar uma máscara, e busca não ser pretencioso. O santo procura viver, entrar, na caminhada cristã e não simplesmente ‘falar’ que é cristão. O santo inverte um velho ditado e diz o seguinte: “Faça como eu faço, e não apenas o que digo”.

Amigos, perguntemos a nós mesmos: será que em algum momento da nossa vida cristã, nós acabamos exigindo dos outros uma conduta que em nós é relaxada? Quando foi que ouvimos palavras de uma pessoa que consideramos santa, dizendo ou exigindo coisas que ela mesmo não estava em condições de viver aquela situação? O problema dos fariseus era exatamente este: colocar fardos pesados nos ombros dos outros sem levantar um dedo para ajudá-las.

Muitas vezes geramos grandes expectativas nos outros, mantemos altos padrões no caráter, na maneira de ser cristão, no comportamento diante dos outros, no que aparece de fato, mas sempre fica aquela dúvida nas pessoas quanto a veracidade do que está se constatando. Sempre surge a pergunta: é real mesmo?

É lógico que é bom ter ideais elevados e altos padrões de comportamento. Os pais, por exemplo, precisam ensinar ao filhos a viver estes mesmos ideais. Mas ao mesmo tempo, não podem esquecer que as crianças são rápidas, muito rápidas, para perceberem se os pais estão mesmo vivendo o que ensinam. Para os filhos, não basta ensinar com palavras, é preciso ter a certeza de que estão dando bom exemplo e vivendo o que falam, livres de qualquer hipocrisia. E diante disso fica a lição: é preciso sempre propor e nunca impor, e ainda, antes de exigir algo dos outros, obeservemos se somos capazes de viver aquilo que cobramos deles.

Precisamos reconhecer nossas fragilidades e procurar Deus para que ele possa fazer por nós, o que não podemos fazer por nós mesmos. Só Deus pode nos perdoar as fraquezas, e depois dar-nos o poder de alcançar a verdade e a santidade por meio da força do seu Espírito Santo.

Sim, nós somos uma Igreja de pecadores, nossos bancos estão cheios de pessoas que não conseguem viver os altos padrões de vida cristã, que não se enquadram nas expectativas do que o Evangelho nos pede, mas continuamos nela para confessar nossos pecados, e pedir que Deus intervenha em nossas vidas onde não estamos mais podendo agir com firmeza.

Uma parcela do mundo relativiza muito as coisas de Deus, até zombam e escarnecem dos que vão participar da Missa, fazem chacota dos que procuram o Sacramento do Perdão, mas de uma coisa temos certeza: estamos humildemente admitindo que, com a ajuda amorosa de Deus, estamos  tentando. Nós nunca desistiremos.

Por: Pe. Márcio Henrique Mendes Fernandes
@pemarciomendes
pemarcio@gmail.com
pemarcio.blogspot.com

Um comentário:

  1. Sabias palavras Padre. Realmente as pessoas tem deixado a hipocrisia tomar conta de suas atitudes e palavras. É fácil dizer o que é correto fazer, mas o difícil mesmo é por em pratica as atitudes e palavras corretas. Que Deus tenha piedade de nós.

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