sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Deus e César


Is 45, 1.4-6;  Salmo 95;  1 Tessalonicenses 1, 1-5b;  Mateus 22, 15-21

Alguns dizem que não se deve misturar política com religião, entretanto essas duas realidades sempre estiveram unidas e isso é fácil de perceber. A pergunta que você deve estar se fazendo: é correto ou não? Vai depender das circunstâncias. Quando alguém usa a religião para se promover politicamente, quando a Igreja fica dependente dos poderosos a ponto de não poder questioná-los, é evidente que não está correto. Por outro lado, é impossível que a comunidade dos discípulos mantenha sua fidelidade a Jesus, ficando alheia às injustiças cometidas com os irmãos e irmãs. A fé não pode ser vivida divorciada da realidade do mundo. Daí que, para vivermos o amor, a fraternidade, é correto que o cristão esteja bem presente na política, para exigir dos que ocupam cargos públicos a honestidade na prestação dos serviços em benefício da sociedade.

Foi o que fez Jesus, não se preocupou apenas com as coisas celestes, muito pelo contrário, sua palavra incomodou profundamente os que fizeram parte dos poderes estabelecidos daquela época. Basta lembrar que a escolha por sua condenação foi, em grande parte, uma manipulação política. Jesus, com a sua popularidade, colocou em risco o prestígio de muitos líderes políticos. A postura dele, em geral, era contrária aos interesses de quem detinha o poder para excluir os pobres.

Assim, por significar uma ameaça constante aos interesses dos líderes políticos, estes preparam uma armadilha para pegar Jesus. Fizeram-lhe uma pergunta com má fé: “É lícito pagar o imposto a César ou não?” (Mt. 22, 17).  Se Jesus respondesse que “não”, seria denunciado às autoridades romanas e preso como subversivo; se respondesse que “sim”, seria visto como um colaborador romano e perderia a credibilidade entre seus seguidores. Jesus estava consciente quanto à astúcia dessa pergunta, por isso responde: “Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Cf. Mt. 22, 21). 

O que significa essa frase de Jesus? Seria uma forma de dizer que política e religião, o profano e o sagrado, devem ser separados? Não! A religião não tem como objetivo se preocupar só com a alma, mas com a totalidade do homem. O ser e o fazer são dimensões humanas que se complementam, uma necessita da outra. Ninguém é religioso pela manhã e à tarde vai se preocupar com as outras coisas (política, economia, impostos, família...). Tudo acontece simultaneamente, porque o homem é um todo em harmonia. O Concílio Vaticano II confirmou isso: “O divórcio entre a fé professada e a vida cotidiana [...] deve ser enumerado entre os erros mais graves do nosso tempo” (Gaudium et Spes, 43).

Desse modo, precisamos saber qual o nosso verdadeiro papel como cristãos diante do mundo, o que devemos dar a César e o que devemos dar a Deus. Os Césares de hoje e de ontem sempre souberam o que nós esperamos deles. Eles próprios nos mostram, naqueles programas políticos, quais são os nossos direitos. É claro que nem sempre vão cumprir com o que falam nos palanques, mesmo assim prometem empregos, reduzir impostos, melhorar o atendimento da saúde, aprimorar a educação etc. Então, dá a César o que é dele, consiste, antes de qualquer coisa, exigir que eles (políticos) exerçam sua função com lisura e ética em favor do bem comum, ponham em prática o que prometeram.

Mas e a Deus, o que devemos dar? Eu e você pertencemos a Deus, somos seus filhos amados. Na moeda do Evangelho estava a face de César, por isso Jesus manda que a ele seja entregue, mas em nós está impressa a imagem de Deus (Cf. Gên 1,27). Somos seres sagrados porque pertencemos a Deus. Então, será que em alguns momentos da vida alguém tirou de Deus o que somente a ele pertencia? O homem é de Deus e ninguém pode se aproveitar dele, escravizá-lo, manipulá-lo como se fosse de sua propriedade.

Não é difícil encontrarmos um patrão que se aproveita dos seus funcionários, que humilha, que paga menos do daquilo que é justo; por todo lado sempre se vê alguém se aproveitando do outro como objeto. Isso é desrespeitar a imagem de Deus que está nas pessoas, é roubar os filhos de Deus, e devem ser imediatamente devolvidos.
Por: Pe. Márcio Henrique Mendes Fernandes
@pemarciomendes
pemarcio@gmail.com
pemarcio.blogspot.com

Um comentário:

  1. Esse texto é perfeito para pensarmos que todos nós, independente de religiões ou das funções que desempenhamos na Igreja à serviço de Deus, somos seres políticos. Daí o que o Senhor falou sobre nós estarmos presentes também na política é de fundamental importância. É claro que se faz necessário ter muito cuidado, para não cedermos as tentações desse mundo corrompido.


    Aparecida Sousa

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