O tempo de rezar é sagrado!

Acho que um dos maiores desafios na vida do cristão consiste em mater-se firme na oração. Hoje quero falar sobre a oração.

Um dia desses estava relendo o livro do Gênesis e me deparei com aquela imagem da arca que Noé construiu para salvar a si mesmo e sua família do dilúvio. A reflexão que me veio inicialmente foi no sentido de que eu também sou chamado a construir uma arca para salvar a mim mesmo, e outros, quando águas do mau começarem a subir. Esta é a arca interior, está dentro de cada um de nós, e a ferramenta adequada para construi-la é a oração. Então vamos pensar um pouco sobre este tema, que diz respeito à nossa sobrevivência espiritual.

Uma primeira observação que faço é tratar o tempo da oração como coisa séria, um horário inegociável para o cristão. É preciso entender o momento de rezar como absolutamente essencial, porque do contrário não se poderá crescer na oração, acha-se sempre uma desculpa para tirá-la da centralidade, e assim estaremos sempre pondo uma difículdade para falar com Deus.

É difícil compreender o nosso comportamento porque quando vamos ao cinema passamos uma tarde inteira olhando para uma grande tela; passamos horas no campo de futebol esperando que os jogadores corram atrás da bola e façam um gol; dirigimos longas horas para assistir um show de um cantor preferido que acontece em outra cidade, no entanto não podemos dar um pouco do tempo diário para nos colocarmos em oração diante de Deus. É o que acontece conosco que encontramos espaço para tudo, exceto para rezar. Para alguns é um problema terrível conseguir um tempinho para uma missa.

Tem gente que resolve esse problema colocando na agenda um tempo específico para rezar, seja na Igreja, no trabalho, no quarto. Com o passar dos anos, essas pessoas acham que sua rotina se tornou um hábito, e sua vida espiritual se tornou mais forte.

Outras pessoas vivem tão envolvidas com seus problemas e dizem o tempo todo que acham difícil parar para rezar. Estas acabam levando uma vida espiritual medíocre, não chegam a lugar nenhum, só se aproximam de Deus quando chegam os problemas.

A maioria de nós, no entanto, tem o desejo de tirar uma parte do dia para a oração, o que falta é apenas um incentivo, alguém que mostre um “caminho” para facilitar uma reza que dê frutos.

Quando nos colocarmos na presença de Deus, lembre-se que não há nada que possamos dar a Ele, tudo Ele já possui. Como o dinheiro, por exemplo. Deus não tem conta no banco, não tem cartão de crédito, por isso não precisa de ser comprado para que recebamos seus benefícios. Eu dou o dízimo, mas não significa uma troca, é para manter o anúncio da Boa Nova de Jesus. Porém, é preciso ter em mente que todo o cosmo é de Deus, Ele tudo fez e tudo lhe pertence.

É engraçado como muitas vezes temos ouvido que tem gente fazendo caridade, horas de jejum, recolhendo dinheiro para os pobres, fazendo qualquer coisa, até dando dinheiro às instituições carentes, contanto que não precisem parar para orar. É uma tentativa de comprar Deus: “Senhor Tu sabes como eu gostaria de passar mais tempo com você em oração, mas eu estou tão ocupado fazendo as boas obras, você sabe...”

Tudo o que Deus quer de você é o seu tempo. Ele precisa de seu tempo para você estar com Ele, e para que Ele possa estar com você. Só você pode dar a Deus o seu tempo.

No dia a dia, tenho visto muitos casamentos se acabarem porque o marido insiste em trabalhar excessivamente, até aos domingos, na tentativa de fazer a mulher entender que ele faz isso para lhe dar todo conforto e provar o seu amor. Ela, no entanto, só queria que ele gastasse um pouco do seu tempo com ela.

Assim, é, principalmente, com Deus. É necessário não esquecer um fato importante: não podemos substituir o tempo de estar com Deus por qualquer outra coisa. Mesmo que seja uma leitura de livros espirituais, ou estar em cursos de teologia,  não podemos substituir o tempo da oração.

Quando damos nosso tempo a Deus, possibilitamos que Ele tenha acesso ao nosso eu interior, ao nosso coração. Como alguém que se coloca na mesa de cirurgia e o médico começa a trabalhar o paciente, Deus inicia ali uma operação divina. Ele vê nossos problemas, nossas fraquezas, nossos medos, nossos maus hábitos, a nossa dureza de coração, nossas confusões e incertezas, a nossa raiva e falta de perdão, as nossas inseguranças e ciúmes, nossa falta de auto-estima, nossos impulsos sexuais, nossas compulsões, nossa falta de fé, nossa imaturidade. Só Deus pode fazer isso por nós, só Ele penetra o interior, e só acontecerá se lhe dermos nosso tempo.

Agora quanto tempo você diria que é justo para dar a Deus? Cinco minutos por dia? Dez minutos? Meia hora? Uma hora por dia?

Ninguém poderá te dizer quanto tempo você precisa para pôr-se na presença de Deus, mas de uma coisa tenho certeza: apenas dez minutos por dia não vai ser suficiente. É facil comprovar. Dez minutos de exercício físico não vai lhe dar um corpo saudável, dez minutos de estudo não vai habilitar ninguém para passar em um concurso, dez minutos de treino para um lutador não vai garantir-lhe a vitória. Você já se imaginou assistindo apenas dez minutos do seu programa favorito? Ou pior ainda, você pode imaginar-se gastando apenas dez minutos por dia com o seu namorado ou sua namorada, seu noivo, sua noiva, seu esposo, sua esposa?

O tempo que você gasta em oração, todos os dias, é que vai dizer a Deus se você está levando a serio esse momento, se está colocando Deus em primeiro lugar.

Neste mundo do ativismo, do lucro, das realizações pessoais, onde fica espaço para a oração? Neste mundo onde o tempo é considerado dinheiro, precisamos ter cuidado para que a oração não se torne algo que não faça nenhum sentido. Nesse tipo de mundo o tempo que se gasta com a oração é visto como tempo perdido. Um absurdo!

Se você é um filho deste mundo secularizado, que valoriza mais o material, nunca você vai orar. Se você permitir que o mundo lhe dê ordens e dite os seus valores contrários à lógica do Evangelho, você nunca vai orar. A oração não encontrará espaço em sua vida.

Então, é urgente que questionemos a nós mesmos. Temos de nos perguntar: Qual é o nosso estilo de vida? Quem define a nossa agenda? O que impulsiona a nossa vida? É o nosso programa de embelezamento estético? É a neurose por academias para estilizar o corpo? É nosso trabalho? É o nosso lazer? Ou é o sublime desejo de união com Deus?