sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Nosso Deus é generoso

Isaias 55,6-9; Salmo 144; Filipenses 1,20c-24.27a; Mateus 20, 1-16a

O apelo que Jesus fez as pessoas em sua proclamação do Reino de Deus, ou o Reino dos Céus como São Mateus preferiu chamá-lo em seu Evangelho, teve dois aspectos principais.
Como os profetas do Antigo Testamento, Jesus muitas vezes pregou em linguagem direta e desafiadora. Por vezes ele tentou provocar mudanças nas pessoas com o intuito de fazê-las mudar de direção em suas vidas, criticou-as duramente, foi muito rigoroso com os que insistiam em manter um nível baixo de fé, santidade e justiça. Para Jesus, uma primeira característica do discípulo do Reino é o esforço contínuo de conversão pessoal.
Por outro lado, a pregação de Jesus enfatizava a bondade e a generosidade de Deus, Sua paciência em face dos nossos repetidos fracassos, Seu desejo incansável de atrair Seus filhos para mais perto, para ter uma amizade maior com Ele.
Em outras palavras, o crescimento espiritual e a santidade, envolvem um esforço conjunto entre Deus e nós mesmos. Santo Agostinho já dizia: “Deus nos criou sem nós, mas não quis salvar-nos sem nós”. Estes dois aspectos estão presentes nas leituras deste final de semana.
A primeira leitura sublinhou o primeiro aspecto: “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado” (55,6), é o grito profético de Isaías. É o mesmo que dizer: Livre-se dos comportamentos desviados em quanto é tempo, liberte-se dos pecados, abandone o egoísmo e a maldade, e volte-se para o Deus que sempre quis recebê-lo.
Essa característica de “urgência” nas palavras do profeta Isaías, é típica do estilo de pregação dos profetas. A vida é curta, é o que quer dizer Isaías. O tempo é limitado. Quanto mais cedo nos voltarmos para Deus, melhor, porque é nesse período da vida terrena, é a partir dessa nossa vida, é o nosso desenvolvimento espiritual e moral, que determinará a nossa passagem para a eternidade.
Existem pessoas que passam a vida toda se dedicando a servir os seus próprios interesses, manipulam os irmãos para tirar vantagens, fecham os olhos para o sofrimento e as injustiças que não o afetam pessoalmente, e no fim da vida, às vezes no leito da morte, querem invocar a benevolência e a compaixão de Deus. É preciso viver, aqui e agora, como pessoas resgatadas. São Paulo disse bem na segunda leitura: “Viver é Cristo” (Fl 1, 21). Deus nos oferece a oportunidade para começarmos agora, desde aqui nesta vida, a trabalhar por nossa salvação. E nós temos que começar a fazer a nossa parte pela doação da nossa vida, pelo amor dispensado aos irmãos, porque Deus já começou fazer a parte Dele.
Pois bem meus irmãos, nesses termos os profetas pregaram tentando convencer as pessoas a mudar o rumo de suas vidas, abraçarem outras prioridades aceitando os propósitos de Deus.
Isaías continuou insistindo no que Deus mandou dizer ao Seu povo: “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos” (55,8).
Quando começamos a nos “voltar para Deus”, na linguagem bíblica, começamos a sentir uma mudança em nossos conceitos morais, valores, desejos, objetivos e metas. As prioridades são outras! É normal e natural querer ser feliz, viver materialmente confortável, emocionalmente seguro, livre de doenças e assim por diante, mas o que não é coerente diante de Deus é passar a vida toda, gastando todas as energias possíveis, tentando apenas criar boas condições para si e suas famílias, ou seja, voltado unicamente para si próprio e esquecido de Deus e de todos.
Mas vejam meus irmãos, “os caminhos de Deus não são os nossos caminhos” (Is 55,9), e nós podemos contemplar isso na experiência de pessoas que realmente voltaram suas vidas para Deus, e começaram a adotar um conjunto completamente diferente de propósitos em suas vidas. São pessoas que se converteram, seja pela dor ou alegria, e entraram no caminho de Deus.
Quanto mais nos deixarmos ser conduzidos por Deus, mais seremos influenciados pelos valores evangélicos, mais estaremos identificados com os caminhos do Reino de Deus e passamos a viver de outra maneira: não ajuntamos tesouros na terra, mas colocamos a confiança e segurança em Deus; amamos os nossos inimigos e oramos pelos que nos perseguem; não pagamos o mal com o mal, mas se alguém nos bate na face direita oferecemos à esquerda... O Evangelho aparece em nós!
O Reino de Deus está intimamente relacionado a uma inversão de todos os princípios de conforto, segurança e interesses pessoais que estão bem presentes em todos nós. É por isso que, numa sociedade como a nossa, enquanto alguns são individualistas e só pensam em si mesmos, outros estão se organizando para ajudar os menos favorecidos. Graças a Deus muita gente de boa vontade se esforça em organizar campanhas beneficentes e trabalham em prol de conseguir contribuições para as obras sociais, de angariar recursos daqueles que mais possuem para distribuí-los com os mais pobres.
É preciso ter em mente uma coisa: quando as pessoas se voltam para Deus de uma forma mais radical e começam a viver os valores reais do Reino, eles começam a ser vistos como pessoas estranhas e fora da realidade. Sua renúncia aos princípios que levam ao auto-interesse desconcerta as pessoas. Poucos são capazes de compreender os caminhos de Deus e por isso os convertidos serão tratados com estupidez pelos que pensam somente em possuir os bens materiais deste mundo.
Essa verdade está bem disposta na parábola do Evangelho deste domingo. Nós aprendemos que para ser justo é preciso pagar o mesmo salário aos trabalhadores que trabalharam uma mesma quantidade de horas. Também aprendemos que as pessoas que trabalham mais devem receber maiores salários. É a idéia de justiça que está em nossa mente, e qualquer desvio destes padrões de justiça causa ressentimentos, invejas, como aconteceu na parábola.
Mas o Reino de Deus vai além das normas padrões de justiça e equidade deste mundo, a maneira de Deus lidar conosco, é diferente da maneira que nós tratamos uns aos outros quando existe algum problema de justiça a ser resolvido. Em nosso relacionamento com Deus, Jesus está afirmando que, mesmo aquele que se voltou para Ele na última hora, pertence ao Reino tanto quanto aquele que já está com Ele desde o primeiro momento, que trabalhou o dia inteiro e aguentou todo o calor do sol.
Para Isaías, quanto mais cedo for a decisão de retornar para Deus, melhor. O tempo é curto e quanto mais rápido nos colocarmos sob a Sua influência, mais chances teremos de mudanças. A lição de Jesus é que nunca é tarde demais para voltar a vida para Deus.
Até o último momento, e independentemente do quanto alguém tenha tido aproximação ou deliberadamente tenha excluído Deus a partir das ações e decisões da vida, Deus sempre reage com generosidade ilimitada. Ele está sempre disposto a receber qualquer pessoa que esteja decido a voltar, e participar da Sua graça e santidade. O contato com Deus transforma as pessoas. À imagem que Jesus apresenta do Pai, é a de um “patrão” bondoso que está disposto a pagar, ao operário que chegou por último, a mesma quantia que pagou ao que madrugou.
Então, esses são alguns dos aspectos das leituras deste domingo que poderão nos ajudar a comparar com nossa própria vida de fé, e também servirá para ajudar a vida de muitos dos nossos irmãos que ainda não conseguiram chegar para comprometer-se incondicionalmente com Deus. Espero que se sintam estimulados e apressem o passo na direção do discipulado cristão, não adiemos para a última hora.

Um comentário:

  1. Bom dia Pe. Márcio,

    Sobre o Evangelho já fiz meu comentário no @catedralcg . Estou gostando muito destas reflexões do Evangelho dos domingos.

    Quero lembrar também que os vídeos do #1muticomcatedralcg já estão no youtube no blog da Pascom.

    Abraços, Aurea

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