sábado, 3 de setembro de 2011

Corrigir com amor!


Agradeço de coração a participação de vocês neste blog. Não sou escritor, mas atrevidamente escrevo o que vou acumulando através da leitura de manuais de grandes biblistas e teólogos colocados à nossa disposição.

Nas leituras da liturgia dominical deste final de semana (23º Domingo do Tempo Comum – Ano A), Deus nos dá a responsabilidade por nossos irmãos. Portanto, aqueles termos “não é da minha conta”, “não tenho nada a ver com fulano”, não são bíblicos, não são aceitáveis na prática da vida cristã.

Os discípulos de Jesus, como guardiões uns dos outros, são responsáveis ​​e responsabilizados pelo bem-estar daqueles que estão sob seus cuidados, seja ele seus filhos, avós ou mesmo amigos. Igualmente, os advogados são responsáveis ​​e responsabilizados por seus clientes; os médicos são responsáveis ​​e responsabilizados por seus pacientes; oficiais da polícia, guardas de segurança e agentes penitenciários são responsáveis ​​e responsabilizados pelas suas ações em defesa da lei; os gerentes são responsáveis, e ​​até o Banco, por prestar contas do dinheiro depositado pelos seus clientes. Em cada ocupação, há uma responsabilidade e uma responsabilização de todos os envolvidos.

A Palavra de Deus deste domingo não está se referindo apenas a essas responsabilidades próprias da vida cotidiana e profissional, mas, sobretudo da responsabilidade espiritual que cada um de nós tem para como o nosso “próximo”. Veja o que Deus disse ao profeta Ezequiel (37,7-9): “eu te estabeleci vigia para a casa de Israel”. No sentido bíblico, ser vigia do irmão que está “próximo” tem um significado maior do que simplesmente olhar a “porta do vizinho”, ver apenas quem está pertinho de você. O Senhor falou da nossa responsabilidade de corrigir, de intervir, de falar francamente, de alertar aos nossos irmãos e irmãs em Cristo que estão impregnados pelos erros. Isso é ser profeta também como Ezequiel! Essa obrigação não é novidade, ela sempre existiu na Igreja Católica, desde os primeiros dias da Comunidade Cristã até o presente momento.

A leitura do profeta Ezequiel (33,7) deixa claro que Deus nos ordena a falar em Seu nome. Como cristãos e ministros da Palavra de Deus, através da promessa que fizemos a Deus e à Igreja quando fomos batizados, temos uma responsabilidade e somos obrigados a prevenir os que estão caminhando longe dos caminhos do Senhor, para que possam ser salvos da morte espiritual. Porém, se o irmão envolvido pelos seus erros ignorar a advertência, eles incorrerão nas consequências da própria teimosia. Mas o principal para quem o alertou é a certeza de que não foi o responsável por aquele que buscou por livre escolha a condenação eterna. Ele, embora tenha sido avisado, quis abraçar o pecado e rejeitar a graça de Deus. E sem dúvida, para quem serviu fielmente a Deus como mensageiro de sua Palavra, receberá, ao contrário daquele, o prêmio da salvação.

Diante dessa obrigação se “cuidar” do irmão interpretemos bem a Palavra Sagrada que está relacionada especialmente ao “zelo” pelo próximo, e não aos juízos temerários. Em Mateus 7,1-2 está escrito: "Não julguem, e vocês não serão julgados... porque vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem. E ainda Jesus arremata dizendo: “Por que você fica olhando o cisco no olho do teu irmão, e não presta atenção à trave que está no teu olho” ( Mt 7,3).  Ora meus irmãos, a vigilância sobre os nossos companheiros de caminhada requer de nós um espírito de tolerância, que não significa dizer que devamos concordar com o pecado dos outros. Pelo contrário, se formos indiferentes ou dermos aprovação ao pecado seremos tão culpados como se tivéssemos cometido os mesmos. Nosso silêncio nos condena! Ou somos cristãos e defendemos os ensinamentos da Igreja ou não somos verdadeiros cristãos. “Quem não está comigo, está contra mim, e quem não recolhe comigo, espalha” (Mt 12,30), assevera Jesus.

A Igreja, Corpo Místico de Cristo, é como uma grande árvore que dá vida e se estende por todo o mundo. Nós somos os ramos que foram anexados à árvore da vida que é Jesus Cristo. Através de nossas ações, é que a Igreja, Povo de Deus, se manifesta como boa ou má: “Se vocês plantarem uma árvore boa, o fruto dela será bom; mas se vocês plantarem uma árvore má, também o fruto dela será mau, porque é pelo fruto que se conhece a árvore” (Mt 12, 33).

Não brinquemos com a nossa vida espiritual, não sejamos negligentes com o pecado, porque se não dermos bons frutos por causa da nossa indiferença em relação aos pecados nossos e dos outros, então o Senhor virá para podar a árvore que está com galhos mortos e queimá-los (Mt 7,19). Entenda esse fogo não como castigo de Deus, mas como símbolo da purificação realizada por Ele através do Seu Espírito.  

O texto de São Paulo ao Romanos nos recomenda: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo"  (Lev. 19,18). E São Paulo disse em alguns capítulos anteriores (Rm 13,8): "Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo”. Por que não dever nada a ninguém? É porque se assim o fizermos, a dívida pode ser usada como um instrumento de barganha para silenciar-nos. Quando alguém nos deve dinheiro, não nos atrevemos a falar de seu pecado com medo de perder o que é devido para nós. Quando tomamos algo emprestado de alguém, não nos atrevemos a falar de seu pecado, porque ele pode exigir o reembolso imediato. Dívidas e empréstimos são ótimas ferramentas do maligno para silenciar aqueles que quiserem anunciar a mensagem de salvação e denunciar profeticamente o que estiver contrário ao amor de Deus.

Mas o que é que vai contar mesmo para a nossa salvação? O que vamos dizer a Deus em relação ao nosso silêncio? Teríamos coragem de dizer: “Eu não quis dizer nada porque ele me devia dinheiro”? Será que a Palavra de Deus e a nossa salvação são menos importantes do que a riqueza deste mundo que passará?

No Evangelho de hoje Jesus nos ensina como proceder na responsabilidade de corrigir fraternalmente os nossos irmãos e irmãs espirituais. Primeiro, somos obrigados a abordagem particular do pecador, isto é, não podemos humilhar publicamente as pessoas. Caso o pecador tenha sinceramente se arrependido, louve a Deus e mantenha o sigilo, preserve a privacidade dele. Ninguém precisa saber dos pecados dos outros para evitar uma reação de fofocas em cadeia que irá prejudicar a vida espiritual de todos aqueles que estão envolvidos.

Mas se o pecador permanecer indiferente a sua salvação, temos a obrigação de encontrá-lo novamente, porém desta vez com duas ou três testemunhas. Pode ser que ele ainda se recuse a ouvi-los, e desse modo somos obrigados a chamar a Igreja. E se mesmo assim o infrator ainda se recusa a ouvir, até mesmo a Igreja, considere tal pessoa como um gentio e publicano. Para o povo judeu, os gentios não eram membros do Corpo de Cristo e os cobradores de impostos eram evitados.

Por que Jesus disse essa frase? Estaria ele pensando que precisamos nos separar das pessoas erradas, precisamos excluir do nosso convívio estas pessoas? Nada disso! É lógico que se colocamos uma fruta ruim entre os bons frutos, os maus frutos corrompem os outros. Os bons frutos começam a tomar a mesma forma como o fruto ruim. Como também se todo mundo for indiferente ao pecado de uma pessoa, o pecado se torna aceitável, e mais cedo ou mais tarde todos estão cometendo o mesmo pecado como norma de vida cristã e da sociedade. Porém, lembre-se que Jesus sempre esteve ao lado dos pecadores na tentativa de resgatá-los para uma vida nova. O Cristão não se contamina, porque dentro dele existe uma força purificadora que o impede de se contagiar com a sujeira do pecado: é a força o Espírito Santo.

Quem se aproxima de pessoas que vivem nas trevas do pecado, não é para aderir ao erro. Alguns pecados são frutos da nossa atitude de indiferença e de comportamentos pecaminosos que vão se tornando aceitáveis pela maioria da sociedade. Numerosas perversões vão destruindo as famílias e ferindo de morte a educação das crianças, jovens e adultos em geral, desviando as consciências do caminho da verdade e da Santidade de Deus.

Portanto, somos cristãos e temos a obrigação de corrigir fraternalmente os nossos semelhantes na tentativa de fazê-los viver segundo as orientações do Evangelho. A conversão dos irmãos é responsabilidade nossa, e com certeza vamos prestar contas a Deus pelas ações daqueles que nos cercam, sejam nossos pais, irmãos, filhos, parentes, vizinhos, colegas de trabalho. Somos responsáveis para que nenhum deles se perca.

Um comentário:

  1. Pe. Márcio

    Parabéns pela reflexão sobre o Evangelho. É isto mesmo. Todos somos responsáveis uns pelos outros. Este é o sonho de ouro de Jesus Cristo para com seus filhos.

    Obrigada pelas palavras de alerta porém ditas com muito amor.

    Aurea Ramos Araujo
    Coord. da PascomCatedral

    ResponderExcluir