Agradeço de coração a participação de vocês neste blog. Não sou escritor, mas atrevidamente escrevo o que vou acumulando através da leitura de manuais de grandes biblistas e teólogos colocados à nossa disposição.
Nas leituras da liturgia dominical deste final de semana (23º Domingo do Tempo Comum – Ano A), Deus nos dá a responsabilidade por nossos irmãos. Portanto, aqueles termos “não é da minha conta”, “não tenho nada a ver com fulano”, não são bíblicos, não são aceitáveis na prática da vida cristã.
Os discípulos de Jesus, como guardiões uns dos outros, são responsáveis e responsabilizados pelo bem-estar daqueles que estão sob seus cuidados, seja ele seus filhos, avós ou mesmo amigos. Igualmente, os advogados são responsáveis e responsabilizados por seus clientes; os médicos são responsáveis e responsabilizados por seus pacientes; oficiais da polícia, guardas de segurança e agentes penitenciários são responsáveis e responsabilizados pelas suas ações em defesa da lei; os gerentes são responsáveis, e até o Banco, por prestar contas do dinheiro depositado pelos seus clientes. Em cada ocupação, há uma responsabilidade e uma responsabilização de todos os envolvidos.
A Palavra de Deus deste domingo não está se referindo apenas a essas responsabilidades próprias da vida cotidiana e profissional, mas, sobretudo da responsabilidade espiritual que cada um de nós tem para como o nosso “próximo”. Veja o que Deus disse ao profeta Ezequiel (37,7-9): “eu te estabeleci vigia para a casa de Israel”. No sentido bíblico, ser vigia do irmão que está “próximo” tem um significado maior do que simplesmente olhar a “porta do vizinho”, ver apenas quem está pertinho de você. O Senhor falou da nossa responsabilidade de corrigir, de intervir, de falar francamente, de alertar aos nossos irmãos e irmãs em Cristo que estão impregnados pelos erros. Isso é ser profeta também como Ezequiel! Essa obrigação não é novidade, ela sempre existiu na Igreja Católica, desde os primeiros dias da Comunidade Cristã até o presente momento.
A leitura do profeta Ezequiel (33,7) deixa claro que Deus nos ordena a falar em Seu nome. Como cristãos e ministros da Palavra de Deus, através da promessa que fizemos a Deus e à Igreja quando fomos batizados, temos uma responsabilidade e somos obrigados a prevenir os que estão caminhando longe dos caminhos do Senhor, para que possam ser salvos da morte espiritual. Porém, se o irmão envolvido pelos seus erros ignorar a advertência, eles incorrerão nas consequências da própria teimosia. Mas o principal para quem o alertou é a certeza de que não foi o responsável por aquele que buscou por livre escolha a condenação eterna. Ele, embora tenha sido avisado, quis abraçar o pecado e rejeitar a graça de Deus. E sem dúvida, para quem serviu fielmente a Deus como mensageiro de sua Palavra, receberá, ao contrário daquele, o prêmio da salvação.
Diante dessa obrigação se “cuidar” do irmão interpretemos bem a Palavra Sagrada que está relacionada especialmente ao “zelo” pelo próximo, e não aos juízos temerários. Em Mateus 7,1-2 está escrito: "Não julguem, e vocês não serão julgados... porque vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem. E ainda Jesus arremata dizendo: “Por que você fica olhando o cisco no olho do teu irmão, e não presta atenção à trave que está no teu olho” ( Mt 7,3). Ora meus irmãos, a vigilância sobre os nossos companheiros de caminhada requer de nós um espírito de tolerância, que não significa dizer que devamos concordar com o pecado dos outros. Pelo contrário, se formos indiferentes ou dermos aprovação ao pecado seremos tão culpados como se tivéssemos cometido os mesmos. Nosso silêncio nos condena! Ou somos cristãos e defendemos os ensinamentos da Igreja ou não somos verdadeiros cristãos. “Quem não está comigo, está contra mim, e quem não recolhe comigo, espalha” (Mt 12,30), assevera Jesus.
A Igreja, Corpo Místico de Cristo, é como uma grande árvore que dá vida e se estende por todo o mundo. Nós somos os ramos que foram anexados à árvore da vida que é Jesus Cristo. Através de nossas ações, é que a Igreja, Povo de Deus, se manifesta como boa ou má: “Se vocês plantarem uma árvore boa, o fruto dela será bom; mas se vocês plantarem uma árvore má, também o fruto dela será mau, porque é pelo fruto que se conhece a árvore” (Mt 12, 33).
Não brinquemos com a nossa vida espiritual, não sejamos negligentes com o pecado, porque se não dermos bons frutos por causa da nossa indiferença em relação aos pecados nossos e dos outros, então o Senhor virá para podar a árvore que está com galhos mortos e queimá-los (Mt 7,19). Entenda esse fogo não como castigo de Deus, mas como símbolo da purificação realizada por Ele através do Seu Espírito.
O texto de São Paulo ao Romanos nos recomenda: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lev. 19,18). E São Paulo disse em alguns capítulos anteriores (Rm 13,8): "Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo”. Por que não dever nada a ninguém? É porque se assim o fizermos, a dívida pode ser usada como um instrumento de barganha para silenciar-nos. Quando alguém nos deve dinheiro, não nos atrevemos a falar de seu pecado com medo de perder o que é devido para nós. Quando tomamos algo emprestado de alguém, não nos atrevemos a falar de seu pecado, porque ele pode exigir o reembolso imediato. Dívidas e empréstimos são ótimas ferramentas do maligno para silenciar aqueles que quiserem anunciar a mensagem de salvação e denunciar profeticamente o que estiver contrário ao amor de Deus.
Mas o que é que vai contar mesmo para a nossa salvação? O que vamos dizer a Deus em relação ao nosso silêncio? Teríamos coragem de dizer: “Eu não quis dizer nada porque ele me devia dinheiro”? Será que a Palavra de Deus e a nossa salvação são menos importantes do que a riqueza deste mundo que passará?
No Evangelho de hoje Jesus nos ensina como proceder na responsabilidade de corrigir fraternalmente os nossos irmãos e irmãs espirituais. Primeiro, somos obrigados a abordagem particular do pecador, isto é, não podemos humilhar publicamente as pessoas. Caso o pecador tenha sinceramente se arrependido, louve a Deus e mantenha o sigilo, preserve a privacidade dele. Ninguém precisa saber dos pecados dos outros para evitar uma reação de fofocas em cadeia que irá prejudicar a vida espiritual de todos aqueles que estão envolvidos.
Mas se o pecador permanecer indiferente a sua salvação, temos a obrigação de encontrá-lo novamente, porém desta vez com duas ou três testemunhas. Pode ser que ele ainda se recuse a ouvi-los, e desse modo somos obrigados a chamar a Igreja. E se mesmo assim o infrator ainda se recusa a ouvir, até mesmo a Igreja, considere tal pessoa como um gentio e publicano. Para o povo judeu, os gentios não eram membros do Corpo de Cristo e os cobradores de impostos eram evitados.
Por que Jesus disse essa frase? Estaria ele pensando que precisamos nos separar das pessoas erradas, precisamos excluir do nosso convívio estas pessoas? Nada disso! É lógico que se colocamos uma fruta ruim entre os bons frutos, os maus frutos corrompem os outros. Os bons frutos começam a tomar a mesma forma como o fruto ruim. Como também se todo mundo for indiferente ao pecado de uma pessoa, o pecado se torna aceitável, e mais cedo ou mais tarde todos estão cometendo o mesmo pecado como norma de vida cristã e da sociedade. Porém, lembre-se que Jesus sempre esteve ao lado dos pecadores na tentativa de resgatá-los para uma vida nova. O Cristão não se contamina, porque dentro dele existe uma força purificadora que o impede de se contagiar com a sujeira do pecado: é a força o Espírito Santo.
Quem se aproxima de pessoas que vivem nas trevas do pecado, não é para aderir ao erro. Alguns pecados são frutos da nossa atitude de indiferença e de comportamentos pecaminosos que vão se tornando aceitáveis pela maioria da sociedade. Numerosas perversões vão destruindo as famílias e ferindo de morte a educação das crianças, jovens e adultos em geral, desviando as consciências do caminho da verdade e da Santidade de Deus.
Portanto, somos cristãos e temos a obrigação de corrigir fraternalmente os nossos semelhantes na tentativa de fazê-los viver segundo as orientações do Evangelho. A conversão dos irmãos é responsabilidade nossa, e com certeza vamos prestar contas a Deus pelas ações daqueles que nos cercam, sejam nossos pais, irmãos, filhos, parentes, vizinhos, colegas de trabalho. Somos responsáveis para que nenhum deles se perca.
Pe. Márcio
ResponderExcluirParabéns pela reflexão sobre o Evangelho. É isto mesmo. Todos somos responsáveis uns pelos outros. Este é o sonho de ouro de Jesus Cristo para com seus filhos.
Obrigada pelas palavras de alerta porém ditas com muito amor.
Aurea Ramos Araujo
Coord. da PascomCatedral