Nas nossas comunidades cristãs de hoje há dois tipos de pessoas: aquelas que acreditam que precisamos dar o perdão porque, do contrário, Deus também não nos perdoa, e outro tipo de pessoa são as que acreditam que precisamos perdoar, porque Deus já se antecipou nos perdoando.
Seria muito interessante que cada um de nós fizesse a si próprio a pergunta: a que grupo de pessoas eu pertenço? Que tipo de pessoa eu sou, com qual grupo me identifico?
Creio e estou convencido, de que o primeiro grupo é o maior e que há pouquíssimas pessoas no segundo. E é também a minha convicção que o maior desafio enfrentado por muitos de nós hoje, digamos pela maioria, é de passar do primeiro grupo para o segundo, de compreender que devemos perdoar porque já fomos perdoados por Deus.
Para os que insistem em pertencer ao primeiro grupo o resultado é lógico, para eles é muito, muito mais difícil perdoar. Por que isso?
É simples, porque para estas pessoas, o perdão é um ato de vontade e não um ato de amor. Eles dizem para si mesmos: “Eu devo perdoar ou não serei perdoado”. Observem que esse tipo de pessoa precisa forçar a si mesmo para agir com o perdão. Para eles, o perdão é uma obrigação, um peso, uma moeda de troca. Tenho a impressão que esse pensamento está em quase todos nós!
Deixe-me esclarecer ainda mais com uma história. Uma pessoa um dia me contou em uma conversa, não foi confissão é claro, que estava sem falar com a sua cunhada. Ela o feriu gravemente com palavras e desde aquele momento passou a ser um problema em sua vida. Ele falou que, como cristão, sabia que tinha o dever de perdoar, ou seja, ele estava no primeiro grupo; perdão era um dever. Porém, mesmo tendo voltado a falar com ela, a convivência era algo muito difícil, uma verdadeira falsidade porque, segundo ele, “tudo o que fazia por ela não era de coração”. Está claro que o perdão neste caso foi um peso.
Já outra pessoa, também abrindo o coração em uma conversa que participei, contou sobre a sua história de conversão que teve início após ter participado do Sacramento da Reconciliação, e foi ali que ela se sentiu tocada em seu coração para perdoar a sua irmã. Ela contava isso com tanta felicidade que os olhos encheram de lágrimas. Estava óbvio que aquela convertida saiu do primeiro grupo para o segundo. As pessoas desse segundo grupo encontram mais facilidade em perdoar, porque já experimentaram o perdão. Perdoar para elas é como recordar e reviver a experiência de terem sido perdoadas.
Por que o servo da parábola do Evangelho deveria ter perdoado? Porque ele mesmo tinha sido objeto do perdão. O problema é que de alguma forma ele deixou essa experiência passar, ele estava desatento e acabou perdendo a oportunidade de viver em profundidade o perdão recebido. Ele estava distraído quando seu patrão lhe perdoou a enorme dívida, por isso não foi capaz de perdoar os que lhe deviam. Como é triste a ingratidão!
Se ficarmos no primeiro grupo, teremos grande dificuldade de perdoar os outros, mas é aí que é muito importante retomar em nós a experiência de termos sido perdoados dos nossos pecados. Dessa forma, perdoar será um prazer.
Em sua oração dirija-se a Deus tendo sempre presente as suas fraquezas, seus pecados. Diga de modo muito transparente a Deus e batendo no peito: “por minha culpa, minha tão grande culpa!” E bom seria que pudéssemos ouvir de Deus a resposta: “você mereceu o castigo eterno, mas eu lhe perdoo”.
O mundo hoje precisa de reconciliação. Tenho ouvido pessoas nos aconselhamentos, que afirmam que já ouviram de alguns psicólogos, que nossas ansiedades, nossos medos, nossas culpas e depressões, em algumas situações demoram a receber a cura, porque simplesmente muitos se recusam a perdoar. É a mesma experiência do servo do Evangelho que se recusou a perdoar porque não percebeu o quanto foi perdoado.
Quem se recusa a perdoar está demolindo a ponte que deveria atravessar para chegar ao céu. Jesus diz que o perdão deve ser “setenta vezes sete” (Mt. 18,22), isto é, sempre, sem medir, sem calcular.
Portanto, mantenhamos os nossos pecados bem presentes, diante dos nossos olhos, não de maneira mórbida, mas de modo que possamos nos alegrar com a profundidade da misericórdia e do amor de Deus para conosco. Então, quando nossos irmãos errarem contra nós, poderemos transmitir para eles o perdão que nós mesmos já provamos e nos alegramos.
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